CAPÍTULOS

 
1 a 10 11 a 20 21 a 31 32 a 42


Capitulo 11
1  Entäo respondeu Zofar, o naamatita, e disse:
2  Porventura näo se dará resposta à multidäo de palavras? E o homem falador será justificado?
3  Ås tuas mentiras se häo de calar os homens? E zombarás tu sem que ninguém te envergonhe?
4  Pois dizes: A minha doutrina é pura, e limpo sou aos teus olhos.
5  Mas na verdade, quem dera que Deus falasse e abrisse os seus lábios contra ti!
6  E te fizesse saber os segredos da sabedoria, que é multíplice em eficácia; sabe, pois, que Deus exige de ti menos do que merece a tua iniqüidade.
7  Porventura alcançarás os caminhos de Deus, ou chegarás à perfeiçäo do Todo-Poderoso?
8  Como as alturas dos céus é a sua sabedoria; que poderás tu fazer? E mais profunda do que o inferno, que poderás tu saber?
9  Mais comprida é a sua medida do que a terra, e mais larga do que o mar.
10  Se ele passar, aprisionar, ou chamar a juízo, quem o impedirá?
11  Porque ele conhece aos homens väos, e vê o vício; e näo o terá em consideraçäo?
12  Mas o homem väo é falto de entendimento; sim, o homem nasce como a cria do jumento montês.
13  Se tu preparares o teu coraçäo, e estenderes as tuas mäos para ele;
14  Se há iniqüidade na tua mäo, lança-a para longe de ti e näo deixes habitar a injustiça nas tuas tendas.
15  Porque entäo o teu rosto levantarás sem mácula; e estarás firme, e näo temerás.
16  Porque te esquecerás do cansaço, e lembrar-te-ás dele como das águas que já passaram.
17  E a tua vida mais clara se levantará do que o meio dia; ainda que haja trevas, será como a manhä.
18  E terás confiança, porque haverá esperança; olharás em volta e repousarás seguro.
19  E deitar-te-ás, e ninguém te espantará; muitos suplicaräo o teu favor.
20  Porém os olhos dos ímpios desfaleceräo, e perecerá o seu refúgio; e a sua esperança será o expirar da alma.


Capitulo 12
1  Entäo Jó respondeu, dizendo:
2  Na verdade, vós sois o povo, e convosco morrerá a sabedoria.
3  Também eu tenho entendimento como vós, e näo vos sou inferior; e quem näo sabe tais coisas como essas?
4  Eu sou motivo de riso para os meus amigos; eu, que invoco a Deus, e ele me responde; o justo e perfeito serve de zombaria.
5  Tocha desprezível é, na opiniäo do que está descansado, aquele que está pronto a vacilar com os pés.
6  As tendas dos assoladores têm descanso, e os que provocam a Deus estäo seguros; nas suas mäos Deus lhes pöe tudo.
7  Mas, pergunta agora às alimárias, e cada uma delas te ensinará; e às aves dos céus, e elas te faräo saber;
8  Ou fala com a terra, e ela te ensinará; até os peixes do mar te contaräo.
9  Quem näo entende, por todas estas coisas, que a mäo do SENHOR fez isto?
10  Na sua mäo está a alma de tudo quanto vive, e o espírito de toda a carne humana.
11  Porventura o ouvido näo provará as palavras, como o paladar prova as comidas?
12  Com os idosos está a sabedoria, e na longevidade o entendimento.
13  Com ele está a sabedoria e a força; conselho e entendimento tem.
14  Eis que ele derruba, e ninguém há que edifique; prende um homem, e ninguém há que o solte.
15  Eis que ele retém as águas, e elas secam; e solta-as, e elas transtornam a terra.
16  Com ele está a força e a sabedoria; seu é o que erra e o que o faz errar.
17  Aos conselheiros leva despojados, e aos juízes faz desvairar.
18  Solta a autoridade dos reis, e ata o cinto aos seus lombos.
19  Aos sacerdotes leva despoja-dos, aos poderosos transtorna.
20  Aos acreditados tira a fala, e tira o entendimento aos anciäos.
21  Derrama desprezo sobre os príncipes, e afrouxa o cinto dos fortes.
22  Das trevas descobre coisas profundas, e traz à luz a sombra da morte.
23  Multiplica as naçöes e as faz perecer; dispersa as naçöes, e de novo as reconduz.
24  Tira o entendimento aos chefes dos povos da terra, e os faz vaguear pelos desertos, sem caminho.
25  Nas trevas andam às apalpadelas, sem terem luz, e os faz desatinar como ébrios.


Capitulo 13
1  Eis que tudo isto viram os meus olhos, e os meus ouvidos o ouviram e entenderam.
2  Como vós o sabeis, também eu o sei; näo vos sou inferior.
3  Mas eu falarei ao Todo-Poderoso, e quero defender-me perante Deus.
4  Vós, porém, sois inventores de mentiras, e vós todos médicos que näo valem nada.
5  Quem dera que vos calásseis de todo, pois isso seria a vossa sabedoria.
6  Ouvi agora a minha defesa, e escutai os argumentos dos meus lábios.
7  Porventura por Deus falareis perversidade e por ele falareis mentiras?
8  Fareis acepçäo da sua pessoa? Contendereis por Deus?
9  Ser-vos-ia bom, se ele vos esquadrinhasse? Ou zombareis dele, como se zomba de algum homem?
10  Certamente vos repreenderá, se em oculto fizerdes acepçäo de pessoas.
11  Porventura näo vos espantará a sua alteza, e näo cairá sobre vós o seu terror?
12  As vossas memórias säo como provérbios de cinza; as vossas defesas como defesas de lodo.
13  Calai-vos perante mim, e falarei eu, e venha sobre mim o que vier.
14  Por que razäo tomarei eu a minha carne com os meus dentes, e porei a minha vida na minha mäo?
15  Ainda que ele me mate, nele esperarei; contudo os meus caminhos defenderei diante dele.
16  Também ele será a minha salvaçäo; porém o hipócrita näo virá perante ele.
17  Ouvi com atençäo as minhas palavras, e com os vossos ouvidos a minha declaraçäo.
18  Eis que já tenho ordenado a minha causa, e sei que serei achado justo.
19  Quem é o que contenderá comigo? Se eu agora me calasse, renderia o espírito.
20  Duas coisas somente näo faças para comigo; entäo näo me esconderei do teu rosto:
21  Desvia a tua mäo para longe, de mim, e näo me espante o teu terror.
22  Chama, pois, e eu responderei; ou eu falarei, e tu me responderás.
23  Quantas culpas e pecados tenho eu? Notifica-me a minha transgressäo e o meu pecado.
24  Por que escondes o teu rosto, e me tens por teu inimigo?
25  Porventura acossarás uma folha arrebatada pelo vento? E perseguirás o restolho seco?
26  Por que escreves contra mim coisas amargas e me fazes herdar as culpas da minha mocidade?
27  Também pöes os meus pés no tronco, e observas todos os meus caminhos, e marcas os sinais dos meus pés.
28  E ele me consome como a podridäo, e como a roupa, à qual rói a traça.


Capitulo 14
1  O homem, nascido da mulher, é de poucos dias e farto de inquietaçäo.
2  Sai como a flor, e murcha; foge também como a sombra, e näo permanece.
3  E sobre este tal abres os teus olhos, e a mim me fazes entrar no juízo contigo.
4  Quem do imundo tirará o puro? Ninguém.
5  Visto que os seus dias estäo determinados, contigo está o número dos seus meses; e tu lhe puseste limites, e näo passará além deles.
6  Desvia-te dele, para que tenha repouso, até que, como o jornaleiro, tenha contentamento no seu dia.
7  Porque há esperança para a árvore que, se for cortada, ainda se renovará, e näo cessaräo os seus renovos.
8  Se envelhecer na terra a sua raiz, e o seu tronco morrer no pó,
9  Ao cheiro das águas brotará, e dará ramos como uma planta.
10  Porém, morto o homem, é consumido; sim, rendendo o homem o espírito, entäo onde está ele?
11  Como as águas se retiram do mar, e o rio se esgota, e fica seco,
12  Assim o homem se deita, e näo se levanta; até que näo haja mais céus, näo acordará nem despertará de seu sono.
13  Quem dera que me escondesses na sepultura, e me ocultasses até que a tua ira se fosse; e me pusesses um limite, e te lembrasses de mim!
14  Morrendo o homem, porventura tornará a viver? Todos os dias de meu combate esperaria, até que viesse a minha mudança.
15  Chamar-me-ias, e eu te responderia, e terias afeto à obra de tuas mäos.
16  Mas agora contas os meus passos; porventura näo vigias sobre o meu pecado?
17  A minha transgressäo está selada num saco, e amontoas as minhas iniqüidades.
18  E, na verdade, caindo a montanha, desfaz-se; e a rocha se remove do seu lugar.
19  As águas gastam as pedras, as cheias afogam o pó da terra; e tu fazes perecer a esperança do homem;
20  Tu para sempre prevaleces contra ele, e ele passa; mudas o seu rosto, e o despedes.
21  Os seus filhos recebem honra, sem que ele o saiba; säo humilhados; sem que ele o perceba;
22  Mas a sua carne nele tem dores; e a sua alma nele lamenta.


Capitulo 15
1  Entäo respondeu Elifaz o temanita, e disse:
2  Porventura proferirá o sábio vä sabedoria? E encherá do vento oriental o seu ventre,
3  Argüindo com palavras que de nada servem, e com razöes, de que nada aproveita?
4  E tu tens feito väo o temor, e diminuis os rogos diante de Deus.
5  Porque a tua boca declara a tua iniqüidade; e tu escolhes a língua dos astutos.
6  A tua boca te condena, e näo eu, e os teus lábios testificam contra ti.
7  És tu porventura o primeiro homem que nasceu? Ou foste formado antes dos outeiros?
8  Ou ouviste o secreto conselho de Deus e a ti só limitaste a sabedoria?
9  Que sabes tu, que nós näo saibamos? Que entendes, que näo haja em nós?
10  Também há entre nós encanecidos e idosos, muito mais idosos do que teu pai.
11  Porventura fazes pouco caso das consolaçöes de Deus, e da suave palavra que te dirigimos?
12  Por que te arrebata o teu coraçäo, e por que piscam os teus olhos?
13  Para virares contra Deus o teu espírito, e deixares sair tais palavras da tua boca?
14  Que é o homem, para que seja puro? E o que nasce da mulher, para ser justo?
15  Eis que ele näo confia nos seus santos, e nem os céus säo puros aos seus olhos.
16  Quanto mais abominável e corrupto é o homem que bebe a iniqüidade como a água?
17  Escuta-me, mostrar-te-ei; e o que tenho visto te contarei
18  (O que os sábios anunciaram, ouvindo-o de seus pais, e o näo ocultaram;
19  Aos quais somente se dera a terra, e nenhum estranho passou por entre eles):
20  Todos os dias o ímpio é atormentado, e se reserva, para o tirano, um certo número de anos.
21  O sonido dos horrores está nos seus ouvidos; até na paz lhe sobrevém o assolador.
22  Näo crê que tornará das trevas, mas que o espera a espada.
23  Anda vagueando por päo, dizendo: Onde está? Bem sabe que já o dia das trevas lhe está preparado, à mäo.
24  Assombram-no a angústia e a tribulaçäo; prevalecem contra ele, como o rei preparado para a peleja;
25  Porque estendeu a sua mäo contra Deus, e contra o Todo-Poderoso se embraveceu.
26  Arremete contra ele com a dura cerviz, e contra os pontos grossos dos seus escudos.
27  Porquanto cobriu o seu rosto com a sua gordura, e criou gordura nas ilhargas.
28  E habitou em cidades assoladas, em casas em que ninguém morava, que estavam a ponto de fazer-se montöes de ruínas.
29  Näo se enriquecerá, nem subsistirá a sua fazenda, nem se estenderäo pela terra as suas possessöes.
30  Näo escapará das trevas; a chama do fogo secará os seus renovos, e ao sopro da sua boca desaparecerá.
31  Näo confie, pois, na vaidade, enganando-se a si mesmo, porque a vaidade será a sua recompensa.
32  Antes do seu dia ela se consumará; e o seu ramo näo reverdecerá.
33  Sacudirá as suas uvas verdes, como as da vide, e deixará cair a sua flor como a oliveira,
34  Porque a congregaçäo dos hipócritas se fará estéril, e o fogo consumirá as tendas do suborno.
35  Concebem a malícia, e däo à luz a iniqüidade, e o seu ventre prepara enganos.


Capitulo 16
1  Entäo respondeu Jó, dizendo:
2  Tenho ouvido muitas coisas como estas; todos vós sois consoladores molestos.
3  Porventura näo teräo fim essas palavras de vento? Ou o que te irrita, para assim responderes?
4  Falaria eu também como vós falais, se a vossa alma estivesse em lugar da minha alma, ou amontoaria palavras contra vós, e menearia contra vós a minha cabeça?
5  Antes vos fortaleceria com a minha boca, e a consolaçäo dos meus lábios abrandaria a vossa dor.
6  Se eu falar, a minha dor näo cessa, e, calando-me eu, qual é o meu alívio?
7  Na verdade, agora tu me tens fatigado; tu assolaste toda a minha companhia,
8  Testemunha disto é que já me fizeste enrugado, e a minha magreza já se levanta contra mim, e no meu rosto testifica contra mim.
9  Na sua ira me despedaçou, e ele me perseguiu; rangeu os seus dentes contra mim; aguça o meu adversário os seus olhos contra mim.
10  Abrem a sua boca contra mim; com desprezo me feriram nos queixos, e contra mim se ajuntam todos.
11  Entrega-me Deus ao perverso, e nas mäos dos ímpios me faz cair.
12  Descansado estava eu, porém ele me quebrantou; e pegou-me pela cerviz, e me despedaçou; também me pós por seu alvo.
13  Cercam-me os seus flecheiros; atravessa-me os rins, e näo me poupa, e o meu fel derrama sobre a terra,
14  Fere-me com ferimento sobre ferimento; arremete contra mim como um valente.
15  Cosi sobre a minha pele o cilício, e revolvi a minha cabeça no pó.
16  O meu rosto está todo avermelhado de chorar, e sobre as minhas pálpebras está a sombra da morte:
17  Apesar de näo haver violência nas minhas mäos, e de ser pura a minha oraçäo.
18  Ah! terra, näo cubras o meu sangue e näo haja lugar para ocultar o meu clamor!
19  Eis que também agora a minha testemunha está no céu, e nas alturas o meu testemunho está.
20  Os meus amigos säo os que zombam de mim; os meus olhos se desfazem em lágrimas diante de Deus.
21  Ah! se alguém pudesse contender com Deus pelo homem, como o homem pelo seu próximo!
22  Porque decorridos poucos anos, eu seguirei o caminho por onde näo tornarei.


Capitulo 17
1  O meu espírito se vai consumindo, os meus dias se väo apagando, e só tenho perante mim a sepultura.
2  Deveras estou cercado de zombadores, e os meus olhos contemplam as suas provocaçöes.
3  Promete agora, e dá-me um fiador para contigo; quem há que me dê a mäo?
4  Porque aos seus coraçöes encobriste o entendimento, por isso näo os exaltarás.
5  O que denuncia os seus amigos, a fim de serem despojados, também os olhos de seus filhos desfaleceräo.
6  Porém a mim me pós por um provérbio dos povos, de modo que me tornei uma abominaçäo para eles.
7  Pelo que já se escureceram de mágoa os meus olhos, e já todos os meus membros säo como a sombra.
8  Os retos pasmaräo disto, e o inocente se levantará contra o hipócrita.
9  E o justo seguirá o seu caminho firmemente, e o puro de mäos irá crescendo em força.
10  Mas, na verdade, tornai todos vós e vinde; porque sábio nenhum acharei entre vós.
11  Os meus dias passaram, e malograram os meus propósitos, as aspiraçöes do meu coraçäo.
12  Trocaram a noite em dia; a luz está perto do fim, por causa das trevas.
13  Se eu esperar, a sepultura será a minha casa; nas trevas estenderei a minha cama.
14  Å corrupçäo clamo: Tu és meu pai; e aos vermes: Vós sois minha mäe e minha irmä.
15  Onde, pois, estaria agora a minha esperança? Sim, a minha esperança, quem a poderá ver?
16  As barras da sepultura desceräo quando juntamente no pó teremos descanso.


Capitulo 18
1  Entäo respondeu Bildade, o suíta, e disse:
2  Até quando poreis fim às palavras? Considerai bem, e entäo falaremos.
3  Por que somos tratados como animais, e como imundos aos vossos olhos?
4  Oh tu, que despedaças a tua alma na tua ira, será a terra deixada por tua causa? Remover-se-äo as rochas do seu lugar?
5  Na verdade, a luz dos ímpios se apagará, e a chama do seu fogo näo resplandecerá.
6  A luz se escurecerá nas suas tendas, e a sua lámpada sobre ele se apagará.
7  Os seus passos firmes se estreitaräo, e o seu próprio conselho o derrubará.
8  Porque por seus próprios pés é lançado na rede, e andará nos fios enredados.
9  O laço o apanhará pelo calcanhar, e a armadilha o prenderá.
10  Está escondida debaixo da terra uma corda, e uma armadilha na vereda.
11  Os assombros o espantaräo de todos os lados, e o perseguiräo a cada passo.
12  Será faminto o seu vigor, e a destruiçäo está pronta ao seu lado.
13  Seräo devorados os membros do seu corpo; sim, o primogênito da morte devorará os seus membros.
14  A sua confiança será arrancada da sua tenda, onde está confiado, e isto o fará caminhar para o rei dos terrores.
15  Morará na sua mesma tenda, o que näo lhe pertence; espalhar-se-á enxofre sobre a sua habitaçäo.
16  Por baixo se secaräo as suas raízes e por cima seräo cortados os seus ramos.
17  A sua memória perecerá da terra, e pelas praças näo terá nome.
18  Da luz o lançaräo nas trevas, e afugentá-lo-äo do mundo.
19  Näo terá filho nem neto entre o seu povo, e nem quem lhe suceda nas suas moradas.
20  Do seu dia se espantaräo os do ocidente, assim como se espantam os do oriente.
21  Tais säo, na verdade, as moradas do perverso, e este é o lugar do que näo conhece a Deus.


Capitulo 19
1  Respondeu, porém, Jó, dizendo:
2  Até quando afligireis a minha alma, e me quebrantareis com palavras?
3  Já dez vezes me vituperastes; näo tendes vergonha de injuriar-me.
4  Embora haja eu, na verdade, errado, comigo ficará o meu erro.
5  Se deveras vos quereis engrandecer contra mim, e argüir-me pelo meu opróbrio,
6  Sabei agora que Deus é o que me transtornou, e com a sua rede me cercou.
7  Eis que clamo: Violência! Porém näo sou ouvido. Grito: Socorro! Porém näo há justiça.
8  O meu caminho ele entrincheirou, e já näo posso passar, e nas minhas veredas pós trevas.
9  Da minha honra me despojou; e tirou-me a coroa da minha cabeça.
10  Quebrou-me de todos os lados, e eu me vou; e arrancou a minha esperança, como a uma árvore.
11  E fez inflamar contra mim a sua ira, e me reputou para consigo, como a seus inimigos.
12  Juntas vieram as suas tropas, e prepararam contra mim o seu caminho, e se acamparam ao redor da minha tenda.
13  Pós longe de mim a meus irmäos, e os que me conhecem, como estranhos se apartaram de mim.
14  Os meus parentes me deixaram, e os meus conhecidos se esqueceram de mim.
15  Os meus domésticos e as minhas servas me reputaram como um estranho, e vim a ser um estrangeiro aos seus olhos.
16  Chamei a meu criado, e ele näo me respondeu; cheguei a suplicar-lhe com a minha própria boca.
17  O meu hálito se fez estranho à minha mulher; tanto que supliquei o interesse dos filhos do meu corpo.
18  Até os pequeninos me desprezam, e, levantando-me eu, falam contra mim.
19  Todos os homens da minha confidência me abominam, e até os que eu amava se tornaram contra mim.
20  Os meus ossos se apegaram à minha pele e à minha carne, e escapei só com a pele dos meus dentes.
21  Compadecei-vos de mim, amigos meus, compadecei-vos de mim, porque a mäo de Deus me tocou.
22  Por que me perseguis assim como Deus, e da minha carne näo vos fartais?
23  Quem me dera agora, que as minhas palavras fossem escritas! Quem me dera, fossem gravadas num livro!
24  E que, com pena de ferro, e com chumbo, para sempre fossem esculpidas na rocha.
25  Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra.
26  E depois de consumida a minha pele, contudo ainda em minha carne verei a Deus,
27  Vê-lo-ei, por mim mesmo, e os meus olhos, e näo outros o contemplaräo; e por isso os meus rins se consomem no meu interior.
28  Na verdade, que devíeis dizer: Por que o perseguimos? Pois a raiz da acusaçäo se acha em mim.
29  Temei vós mesmos a espada; porque o furor traz os castigos da espada, para saberdes que há um juízo.


Capitulo 20
1  Entäo respondeu Zofar, o naamatita, e disse:
2  Visto que os meus pensamentos me fazem responder, eu me apresso.
3  Eu ouvi a repreensäo, que me envergonha, mas o espírito do meu entendimento responderá por mim.
4  Porventura näo sabes tu que desde a antiguidade, desde que o homem foi posto sobre a terra,
5  O júbilo dos ímpios é breve, e a alegria dos hipócritas momentánea?
6  Ainda que a sua altivez suba até ao céu, e a sua cabeça chegue até às nuvens.
7  Contudo, como o seu próprio esterco, perecerá para sempre; e os que o viam diräo: Onde está?
8  Como um sonho voará, e näo será achado, e será afugentado como uma visäo da noite.
9  O olho, que já o viu, jamais o verá, nem o seu lugar o verá mais.
10  Os seus filhos procuraräo agradar aos pobres, e as suas mäos restituiräo os seus bens.
11  Os seus ossos estäo cheios do vigor da sua mocidade, mas este se deitará com ele no pó.
12  Ainda que o mal lhe seja doce na boca, e ele o esconda debaixo da sua língua,
13  E o guarde, e näo o deixe, antes o retenha no seu paladar,
14  Contudo a sua comida se mudará nas suas entranhas; fel de áspides será interiormente.
15  Engoliu riquezas, porém vomitá-las-á; do seu ventre Deus as lançará.
16  Veneno de áspides sorverá; língua de víbora o matará.
17  Näo verá as correntes, os rios e os ribeiros de mel e manteiga.
18  Restituirá o seu trabalho, e näo o engolirá; conforme ao poder de sua mudança, e näo saltará de gozo.
19  Porquanto oprimiu e desamparou os pobres, e roubou a casa que näo edificou.
20  Porquanto näo sentiu sossego no seu ventre; nada salvará das coisas por ele desejadas.
21  Nada lhe sobejará do que coma; por isso as suas riquezas näo duraräo.
22  Sendo plena a sua abastança, estará angustiado; toda a força da miséria virá sobre ele.
23  Mesmo estando ele a encher a sua barriga, Deus mandará sobre ele o ardor da sua ira, e a fará chover sobre ele quando for comer.
24  Ainda que fuja das armas de ferro, o arco de bronze o atravessará.
25  Desembainhará a espada que sairá do seu corpo, e resplandecendo virá do seu fel; e haverá sobre ele assombros.
26  Toda a escuridäo se ocultará nos seus esconderijos; um fogo näo assoprado o consumirá, irá mal com o que ficar na sua tenda.
27  Os céus manifestaräo a sua iniqüidade; e a terra se levantará contra ele.
28  As riquezas de sua casa seräo transportadas; no dia da sua ira todas se derramaräo.
29  Esta, da parte de Deus, é a porçäo do homem ímpio; esta é a herança que Deus lhe decretou.