CAPITULOS
|
|
1 Princípio
do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus;
2 Como está
escrito nos profetas: Eis que eu envio o meu anjo ante a tua face, o qual
preparará o teu caminho diante de ti.
3 Voz do que
clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, Endireitai as suas veredas.
4 Apareceu
Joäo batizando no deserto, e pregando o batismo de arrependimento,
para remissäo dos pecados.
5 E toda a
província da Judéia e os de Jerusalém iam ter com
ele; e todos eram batizados por ele no rio Jordäo, confessando os
seus pecados.
6 E Joäo
andava vestido de pêlos de camelo, e com um cinto de couro em redor
de seus lombos, e comia gafanhotos e mel silvestre.
7 E pregava,
dizendo: Após mim vem aquele que é mais forte do que eu,
do qual näo sou digno de, abaixando-me, desatar a correia das suas
alparcas.
8 Eu, em verdade,
tenho-vos batizado com água; ele, porém, vos batizará
com o Espírito Santo.
9 E aconteceu
naqueles dias que Jesus, tendo ido de Nazaré da Galiléia,
foi batizado por Joäo, no Jordäo.
10 E, logo
que saiu da água, viu os céus abertos, e o Espírito,
que como pomba descia sobre ele.
11 E ouviu-se
uma voz dos céus, que dizia: Tu és o meu Filho amado em quem
me comprazo.
12 E logo
o Espírito o impeliu para o deserto.
13 E ali esteve
no deserto quarenta dias, tentado por Satanás. E vivia entre as
feras, e os anjos o serviam.
14 E, depois
que Joäo foi entregue à prisäo, veio Jesus para a Galiléia,
pregando o evangelho do reino de Deus,
15 E dizendo:
O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo.
Arrependei-vos, e crede no evangelho.
16 E, andando
junto do mar da Galiléia, viu Simäo, e André, seu irmäo,
que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores.
17 E Jesus
lhes disse: Vinde após mim, e eu farei que sejais pescadores de
homens.
18 E, deixando
logo as suas redes, o seguiram.
19 E, passando
dali um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e Joäo, seu
irmäo, que estavam no barco consertando as redes,
20 E logo
os chamou. E eles, deixando o seu pai Zebedeu no barco com os jornaleiros,
foram após ele.
21 Entraram
em Cafarnaum e, logo no sábado, indo ele à sinagoga, ali
ensinava.
22 E maravilharam-se
da sua doutrina, porque os ensinava como tendo autoridade, e näo como
os escribas.
23 E estava
na sinagoga deles um homem com um espírito imundo, o qual exclamou,
24 Dizendo:
Ah! que temos contigo, Jesus Nazareno? Vieste destruir-nos? Bem sei quem
és: o Santo de Deus.
25 E repreendeu-o
Jesus, dizendo: Cala-te, e sai dele.
26 Entäo
o espírito imundo, convulsionando-o, e clamando com grande voz,
saiu dele.
27 E todos
se admiraram, a ponto de perguntarem entre si, dizendo: Que é isto?
Que nova doutrina é esta? Pois com autoridade ordena aos espíritos
imundos, e eles lhe obedecem!
28 E logo
correu a sua fama por toda a província da Galiléia.
29 E logo,
saindo da sinagoga, foram à casa de Simäo e de André
com Tiago e Joäo.
30 E a sogra
de Simäo estava deitada com febre; e logo lhe falaram dela.
31 Entäo,
chegando-se a ela, tomou-a pela mäo, e levantou-a; e imediatamente
a febre a deixou, e servia-os.
32 E, tendo
chegado a tarde, quando já se estava pondo o sol, trouxeram-lhe
todos os que se achavam enfermos, e os endemoninhados.
33 E toda
a cidade se ajuntou à porta.
34 E curou
muitos que se achavam enfermos de diversas enfermidades, e expulsou muitos
demónios, porém näo deixava falar os demónios,
porque o conheciam.
35 E, levantando-se
de manhä, muito cedo, fazendo ainda escuro, saiu, e foi para um lugar
deserto, e ali orava.
36 E seguiram-no
Simäo e os que com ele estavam.
37 E, achando-o,
lhe disseram: Todos te buscam.
38 E ele lhes
disse: Vamos às aldeias vizinhas, para que eu ali também
pregue; porque para isso vim.
39 E pregava
nas sinagogas deles, por toda a Galiléia, e expulsava os demónios.
40 E aproximou-se
dele um leproso que, rogando-lhe, e pondo-se de joelhos diante dele, lhe
dizia: Se queres, bem podes limpar-me.
41 E Jesus,
movido de grande compaixäo, estendeu a mäo, e tocou-o, e disse-lhe:
Quero, sê limpo.
42 E, tendo
ele dito isto, logo a lepra desapareceu, e ficou limpo.
43 E, advertindo-o
severamente, logo o despediu.
44 E disse-lhe:
Olha, näo digas nada a ninguém; porém vai, mostra-te
ao sacerdote, e oferece pela tua purificaçäo o que Moisés
determinou, para lhes servir de testemunho.
45 Mas, tendo
ele saído, começou a apregoar muitas coisas, e a divulgar
o que acontecera; de sorte que Jesus já näo podia entrar publicamente
na cidade, mas conservava-se fora em lugares desertos; e de todas as partes
iam ter com ele.
Capitulo 2
1 E alguns
dias depois entrou outra vez em Cafarnaum, e soube-se que estava em casa.
2 E logo se
ajuntaram tantos, que nem ainda nos lugares junto à porta cabiam;
e anunciava-lhes a palavra.
3 E vieram
ter com ele conduzindo um paralítico, trazido por quatro.
4 E, näo
podendo aproximar-se dele, por causa da multidäo, descobriram o telhado
onde estava, e, fazendo um buraco, baixaram o leito em que jazia o paralítico.
5 E Jesus,
vendo a fé deles, disse ao paralítico: Filho, perdoados estäo
os teus pecados.
6 E estavam
ali assentados alguns dos escribas, que arrazoavam em seus coraçöes,
dizendo:
7 Por que
diz este assim blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senäo
Deus?
8 E Jesus,
conhecendo logo em seu espírito que assim arrazoavam entre si, lhes
disse: Por que arrazoais sobre estas coisas em vossos coraçöes?
9 Qual é
mais fácil? dizer ao paralítico: Estäo perdoados os
teus pecados; ou dizer-lhe: Levanta-te, e toma o teu leito, e anda?
10 Ora, para
que saibais que o Filho do homem tem na terra poder para perdoar pecados
(disse ao paralítico),
11 A ti te
digo: Levanta-te, toma o teu leito, e vai para tua casa.
12 E levantou-se
e, tomando logo o leito, saiu em presença de todos, de sorte que
todos se admiraram e glorificaram a Deus, dizendo: Nunca tal vimos.
13 E tornou
a sair para o mar, e toda a multidäo ia ter com ele, e ele os ensinava.
14 E, passando,
viu Levi, filho de Alfeu, sentado na recebedoria, e disse-lhe: Segue-me.
E, levantando-se, o seguiu.
15 E aconteceu
que, estando sentado à mesa em casa deste, também estavam
sentados à mesa com Jesus e seus discípulos muitos publicanos
e pecadores; porque eram muitos, e o tinham seguido.
16 E os escribas
e fariseus, vendo-o comer com os publicanos e pecadores, disseram aos seus
discípulos: Por que come e bebe ele com os publicanos e pecadores?
17 E Jesus,
tendo ouvido isto, disse-lhes: Os säos näo necessitam de médico,
mas, sim, os que estäo doentes; eu näo vim chamar os justos,
mas, sim, os pecadores ao arrependimento.
18 Ora, os
discípulos de Joäo e os fariseus jejuavam; e foram e disseram-lhe:
Por que jejuam os discípulos de Joäo e os dos fariseus, e näo
jejuam os teus discípulos?
19 E Jesus
disse-lhes: Podem porventura os filhos das bodas jejuar enquanto está
com eles o esposo? Enquanto têm consigo o esposo, näo podem
jejuar;
20 Mas dias
viräo em que lhes será tirado o esposo, e entäo jejuaräo
naqueles dias.
21 Ninguém
deita remendo de pano novo em roupa velha; doutra sorte o mesmo remendo
novo rompe o velho, e a rotura fica maior.
22 E ninguém
deita vinho novo em odres velhos; doutra sorte, o vinho novo rompe os odres
e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; o vinho novo deve ser deitado
em odres novos.
23 E aconteceu
que, passando ele num sábado pelas searas, os seus discípulos,
caminhando, começaram a colher espigas.
24 E os fariseus
lhe disseram: Vês? Por que fazem no sábado o que näo
é lícito?
25 Mas ele
disse-lhes: Nunca lestes o que fez Davi, quando estava em necessidade e
teve fome, ele e os que com ele estavam?
26 Como entrou
na casa de Deus, no tempo de Abiatar, sumo sacerdote, e comeu os päes
da proposiçäo, dos quais näo era lícito comer senäo
aos sacerdotes, dando também aos que com ele estavam?
27 E disse-lhes:
O sábado foi feito por causa do homem, e näo o homem por causa
do sábado.
28 Assim o
Filho do homem até do sábado é Senhor.
Capitulo 3
1 E outra vez
entrou na sinagoga, e estava ali um homem que tinha uma das mäos mirrada.
2 E estavam
observando-o se curaria no sábado, para o acusarem.
3 E disse
ao homem que tinha a mäo mirrada: Levanta-te e vem para o meio.
4 E perguntou-lhes:
É lícito no sábado fazer bem, ou fazer mal? salvar
a vida, ou matar? E eles calaram-se.
5 E, olhando
para eles em redor com indignaçäo, condoendo-se da dureza do
seu coraçäo, disse ao homem: Estende a tua mäo. E ele
a estendeu, e foi-lhe restituída a sua mäo, sä como a
outra.
6 E, tendo
saído os fariseus, tomaram logo conselho com os herodianos contra
ele, procurando ver como o matariam.
7 E retirou-se
Jesus com os seus discípulos para o mar, e seguia-o uma grande multidäo
da Galiléia e da Judéia,
8 E de Jerusalém,
e da Iduméia, e de além do Jordäo, e de perto de Tiro
e de Sidom; uma grande multidäo que, ouvindo quäo grandes coisas
fazia, vinha ter com ele.
9 E ele disse
aos seus discípulos que lhe tivessem sempre pronto um barquinho
junto dele, por causa da multidäo, para que o näo oprimisse,
10 Porque
tinha curado a muitos, de tal maneira que todos quantos tinham algum mal
se arrojavam sobre ele, para lhe tocarem.
11 E os espíritos
imundos vendo-o, prostravam-se diante dele, e clamavam, dizendo: Tu és
o Filho de Deus.
12 E ele os
ameaçava muito, para que näo o manifestassem.
13 E subiu
ao monte, e chamou para si os que ele quis; e vieram a ele.
14 E nomeou
doze para que estivessem com ele e os mandasse a pregar,
15 E para
que tivessem o poder de curar as enfermidades e expulsar os demónios:
16 A Simäo,
a quem pós o nome de Pedro,
17 E a Tiago,
filho de Zebedeu, e a Joäo, irmäo de Tiago, aos quais pós
o nome de Boanerges, que significa: Filhos do troväo;
18 E a André,
e a Filipe, e a Bartolomeu, e a Mateus, e a Tomé, e a Tiago, filho
de Alfeu, e a Tadeu, e a Simäo o Zelote,
19 E a Judas
Iscariotes, o que o entregou.
20 E foram
para uma casa. E afluiu outra vez a multidäo, de tal maneira que nem
sequer podiam comer päo.
21 E, quando
os seus ouviram isto, saíram para o prender; porque diziam: Está
fora de si.
22 E os escribas,
que tinham descido de Jerusalém, diziam: Tem Belzebu, e pelo príncipe
dos demónios expulsa os demónios.
23 E, chamando-os
a si, disse-lhes por parábolas: Como pode Satanás expulsar
Satanás?
24 E, se um
reino se dividir contra si mesmo, tal reino näo pode subsistir;
25 E, se uma
casa se dividir contra si mesma, tal casa näo pode subsistir.
26 E, se Satanás
se levantar contra si mesmo, e for dividido, näo pode subsistir; antes
tem fim.
27 Ninguém
pode roubar os bens do valente, entrando-lhe em sua casa, se primeiro näo
maniatar o valente; e entäo roubará a sua casa.
28 Na verdade
vos digo que todos os pecados seräo perdoados aos filhos dos homens,
e toda a sorte de blasfêmias, com que blasfemarem;
29 Qualquer,
porém, que blasfemar contra o Espírito Santo, nunca obterá
perdäo, mas será réu do eterno juízo
30 (Porque
diziam: Tem espírito imundo).
31 Chegaram,
entäo, seus irmäos e sua mäe; e, estando fora, mandaram-no
chamar.
32 E a multidäo
estava assentada ao redor dele, e disseram-lhe: Eis que tua mäe e
teus irmäos te procuram, e estäo lá fora.
33 E ele lhes
respondeu, dizendo: Quem é minha mäe e meus irmäos?
34 E, olhando
em redor para os que estavam assentados junto dele, disse: Eis aqui minha
mäe e meus irmäos.
35 Porquanto,
qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmäo, e minha
irmä, e minha mäe.
Capitulo 4
1 E outra vez
começou a ensinar junto do mar, e ajuntou-se a ele grande multidäo,
de sorte que ele entrou e assentou-se num barco, sobre o mar; e toda a
multidäo estava em terra junto do mar.
2 E ensinava-lhes
muitas coisas por parábolas, e lhes dizia na sua doutrina:
3 Ouvi: Eis
que saiu o semeador a semear.
4 E aconteceu
que semeando ele, uma parte da semente caiu junto do caminho, e vieram
as aves do céu, e a comeram;
5 E outra
caiu sobre pedregais, onde näo havia muita terra, e nasceu logo, porque
näo tinha terra profunda;
6 Mas, saindo
o sol, queimou-se; e, porque näo tinha raiz, secou-se.
7 E outra
caiu entre espinhos e, crescendo os espinhos, a sufocaram e näo deu
fruto.
8 E outra
caiu em boa terra e deu fruto, que vingou e cresceu; e um produziu trinta,
outro sessenta, e outro cem.
9 E disse-lhes:
Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
10 E, quando
se
achou só, os que estavam junto dele com os doze interrogaram-no
acerca da parábola.
11 E ele disse-lhes:
A vós vos é dado saber os mistérios do reino de Deus,
mas aos que estäo de fora todas estas coisas se dizem por parábolas,
12 Para que,
vendo, vejam, e näo percebam; e, ouvindo, ouçam, e näo
entendam; para que näo se convertam, e lhes sejam perdoados os pecados.
13 E disse-lhes:
Näo percebeis esta parábola? Como, pois, entendereis todas
as parábolas?
14 O que semeia,
semeia a palavra;
15 E, os que
estäo junto do caminho säo aqueles em quem a palavra é
semeada; mas, tendo-a eles ouvido, vem logo Satanás e tira a palavra
que foi semeada nos seus coraçöes.
16 E da mesma
forma os que recebem a semente sobre pedregais; os quais, ouvindo a palavra,
logo com prazer a recebem;
17 Mas näo
têm raiz em si mesmos, antes säo temporäos; depois, sobrevindo
tribulaçäo ou perseguiçäo, por causa da palavra,
logo se escandalizam.
18 E outros
säo os que recebem a semente entre espinhos, os quais ouvem a palavra;
19 Mas os
cuidados deste mundo, e os enganos das riquezas e as ambiçöes
de outras coisas, entrando, sufocam a palavra, e fica infrutífera.
20 E os que
recebem a semente em boa terra säo os que ouvem a palavra e a recebem,
e däo fruto, um a trinta, outro a sessenta, outro a cem, por um.
21 E disse-lhes:
Vem porventura a candeia para se meter debaixo do alqueire, ou debaixo
da cama? näo vem antes para se colocar no velador?
22 Porque
nada há encoberto que näo haja de ser manifesto; e nada se
faz para ficar oculto, mas para ser descoberto.
23 Se alguém
tem ouvidos para ouvir, ouça.
24 E disse-lhes:
Atendei ao que ides ouvir. Com a medida com que medirdes vos mediräo
a vós, e ser-vos-á ainda acrescentada a vós que ouvis.
25 Porque
ao que tem, ser-lhe-á dado; e, ao que näo tem, até o
que tem lhe será tirado.
26 E dizia:
O reino de Deus é assim como se um homem lançasse semente
à terra.
27 E dormisse,
e se levantasse de noite ou de dia, e a semente brotasse e crescesse, näo
sabendo ele como.
28 Porque
a terra por si mesma frutifica, primeiro a erva, depois a espiga, por último
o gräo cheio na espiga.
29 E, quando
já o fruto se mostra, mete-se-lhe logo a foice, porque está
chegada a ceifa.
30 E dizia:
A que assemelharemos o reino de Deus? ou com que parábola o representaremos?
31 É
como um gräo de mostarda, que, quando se semeia na terra, é
a menor de todas as sementes que há na terra;
32 Mas, tendo
sido semeado, cresce; e faz-se a maior de todas as hortaliças, e
cria grandes ramos, de tal maneira que as aves do céu podem aninhar-se
debaixo da sua sombra.
33 E com muitas
parábolas tais lhes dirigia a palavra, segundo o que podiam compreender.
34 E sem parábolas
nunca lhes falava; porém, tudo declarava em particular aos seus
discípulos.
35 E, naquele
dia, sendo já tarde, disse-lhes: Passemos para o outro lado.
36 E eles,
deixando a multidäo, o levaram consigo, assim como estava, no barco;
e havia também com ele outros barquinhos.
37 E levantou-se
grande temporal de vento, e subiam as ondas por cima do barco, de maneira
que já se enchia.
38 E ele estava
na popa, dormindo sobre uma almofada, e despertaram-no, dizendo-lhe: Mestre,
näo se te dá que pereçamos?
39 E ele,
despertando, repreendeu o vento, e disse ao mar: Cala-te, aquieta-te. E
o vento se aquietou, e houve grande bonança.
40 E disse-lhes:
Por que sois täo tímidos? Ainda näo tendes fé?
41 E sentiram
um grande temor, e diziam uns aos outros: Mas quem é este, que até
o vento e o mar lhe obedecem?
1 E chegaram
ao outro lado do mar, à província dos gadarenos.
2 E, saindo
ele do barco, lhe saiu logo ao seu encontro, dos sepulcros, um homem com
espírito imundo;
3 O qual tinha
a sua morada nos sepulcros, e nem ainda com cadeias o podia alguém
prender;
4 Porque,
tendo sido muitas vezes preso com grilhöes e cadeias, as cadeias foram
por ele feitas em pedaços, e os grilhöes em migalhas, e ninguém
o podia amansar.
5 E andava
sempre, de dia e de noite, clamando pelos montes, e pelos sepulcros, e
ferindo-se com pedras.
6 E, quando
viu Jesus ao longe, correu e adorou-o.
7 E, clamando
com grande voz, disse: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo?
conjuro-te por Deus que näo me atormentes.
8 (Porque
lhe dizia: Sai deste homem, espírito imundo.)
9 E perguntou-lhe:
Qual é o teu nome? E lhe respondeu, dizendo: Legiäo é
o meu nome, porque somos muitos.
10 E rogava-lhe
muito que os näo enviasse para fora daquela província.
11 E andava
ali pastando no monte uma grande manada de porcos.
12 E todos
aqueles demónios lhe rogaram, dizendo: Manda-nos para aqueles porcos,
para que entremos neles.
13 E Jesus
logo lho permitiu. E, saindo aqueles espíritos imundos, entraram
nos porcos; e a manada se precipitou por um despenhadeiro no mar (eram
quase dois mil), e afogaram-se no mar.
14 E os que
apascentavam os porcos fugiram, e o anunciaram na cidade e nos campos;
e saíram muitos a ver o que era aquilo que tinha acontecido.
15 E foram
ter com Jesus, e viram o endemoninhado, o que tivera a legiäo, assentado,
vestido e em perfeito juízo, e temeram.
16 E os que
aquilo tinham visto contaram-lhes o que acontecera ao endemoninhado, e
acerca dos porcos.
17 E começaram
a rogar-lhe que saísse dos seus termos.
18 E, entrando
ele no barco, rogava-lhe o que fora endemoninhado que o deixasse estar
com ele.
19 Jesus,
porém, näo lho permitiu, mas disse-lhe: Vai para tua casa,
para os teus, e anuncia-lhes quäo grandes coisas o Senhor te fez,
e como teve misericórdia de ti.
20 E ele foi,
e começou a anunciar em Decápolis quäo grandes coisas
Jesus lhe fizera; e todos se maravilharam.
21 E, passando
Jesus outra vez num barco para o outro lado, ajuntou-se a ele uma grande
multidäo; e ele estava junto do mar.
22 E eis que
chegou um dos principais da sinagoga, por nome Jairo, e, vendo-o, prostrou-se
aos seus pés,
23 E rogava-lhe
muito, dizendo: Minha filha está moribunda; rogo-te que venhas e
lhe imponhas as mäos, para que sare, e viva.
24 E foi com
ele, e seguia-o uma grande multidäo, que o apertava.
25 E certa
mulher que, havia doze anos, tinha um fluxo de sangue,
26 E que havia
padecido muito com muitos médicos, e despendido tudo quanto tinha,
nada lhe aproveitando isso, antes indo a pior;
27 Ouvindo
falar de Jesus, veio por detrás, entre a multidäo, e tocou
na sua veste.
28 Porque
dizia: Se täo-somente tocar nas suas vestes, sararei.
29 E logo
se lhe secou a fonte do seu sangue; e sentiu no seu corpo estar já
curada daquele mal.
30 E logo
Jesus, conhecendo que a virtude de si mesmo saíra, voltou-se para
a multidäo, e disse: Quem tocou nas minhas vestes?
31 E disseram-lhe
os seus discípulos: Vês que a multidäo te aperta, e dizes:
Quem me tocou?
32 E ele olhava
em redor, para ver a que isto fizera.
33 Entäo
a mulher, que sabia o que lhe tinha acontecido, temendo e tremendo, aproximou-se,
e prostrou-se diante dele, e disse-lhe toda a verdade.
34 E ele lhe
disse: Filha, a tua fé te salvou; vai em paz, e sê curada
deste teu mal.
35 Estando
ele ainda falando, chegaram alguns do principal da sinagoga, a quem disseram:
A tua filha está morta; para que enfadas mais o Mestre?
36 E Jesus,
tendo ouvido estas palavras, disse ao principal da sinagoga: Näo temas,
crê somente.
37 E näo
permitiu que alguém o seguisse, a näo ser Pedro, Tiago, e Joäo,
irmäo de Tiago.
38 E, tendo
chegado à casa do principal da sinagoga, viu o alvoroço,
e os que choravam muito e pranteavam.
39 E, entrando,
disse-lhes: Por que vos alvoroçais e chorais? A menina näo
está morta, mas dorme.
40 E riam-se
dele; porém ele, tendo-os feito sair, tomou consigo o pai e a mäe
da menina, e os que com ele estavam, e entrou onde a menina estava deitada.
41 E, tomando
a mäo da menina, disse-lhe: Talita cumi; que, traduzido, é:
Menina, a ti te digo, levanta-te.
42 E logo
a menina se levantou, e andava, pois já tinha doze anos; e assombraram-se
com grande espanto.
43 E mandou-lhes
expressamente que ninguém o soubesse; e disse que lhe dessem de
comer.
Capitulo 6
Capitulo 7
1 Naqueles
dias, havendo uma grande multidäo, e näo tendo que comer, Jesus
chamou a si os seus discípulos, e disse-lhes:
2 Tenho compaixäo
da multidäo, porque há já três dias que estäo
comigo, e näo têm que comer.
3 E, se os
deixar ir em jejum, para suas casas, desfaleceräo no caminho, porque
alguns deles vieram de longe.
4 E os seus
discípulos responderam-lhe: De onde poderá alguém
satisfazê-los de päo aqui no deserto?
5 E perguntou-lhes:
Quantos päes tendes? E disseram-lhe: Sete.
6 E ordenou
à multidäo que se assentasse no chäo. E, tomando os sete
päes, e tendo dado graças, partiu-os, e deu-os aos seus discípulos,
para que os pusessem diante deles, e puseram-nos diante da multidäo.
7 Tinham também
alguns peixinhos; e, tendo dado graças, ordenou que também
lhos pusessem diante.
8 E comeram,
e saciaram-se; e dos pedaços que sobejaram levantaram sete cestos.
9 E os que
comeram eram quase quatro mil; e despediu-os.
10 E, entrando
logo no barco, com os seus discípulos, foi para as partes de Dalmanuta.
11 E saíram
os fariseus, e começaram a disputar com ele, pedindo-lhe, para o
tentarem, um sinal do céu.
12 E, suspirando
profundamente em seu espírito, disse: Por que pede esta geraçäo
um sinal? Em verdade vos digo que a esta geraçäo näo se
dará sinal algum.
13 E, deixando-os,
tornou a entrar no barco, e foi para o outro lado.
14 E eles
se esqueceram de levar päo e, no barco, näo tinham consigo senäo
um päo.
15 E ordenou-lhes,
dizendo: Olhai, guardai-vos do fermento dos fariseus e do fermento de Herodes.
16 E arrazoavam
entre si, dizendo: É porque näo temos päo.
17 E Jesus,
conhecendo isto, disse-lhes: Para que arrazoais, que näo tendes päo?
näo considerastes, nem compreendestes ainda? tendes ainda o vosso
coraçäo endurecido?
18 Tendo olhos,
näo vedes? e tendo ouvidos, näo ouvis? e näo vos lembrais,
19 Quando
parti os cinco päes entre os cinco mil, quantas alcofas cheias de
pedaços levantastes? Disseram-lhe: Doze.
20 E, quando
parti os sete entre os quatro mil, quantos cestos cheios de pedaços
levantastes? E disseram-lhe: Sete.
21 E ele lhes
disse: Como näo entendeis ainda?
22 E chegou
a Betsaida; e trouxeram-lhe um cego, e rogaram-lhe que o tocasse.
23 E, tomando
o cego pela mäo, levou-o para fora da aldeia; e, cuspindo-lhe nos
olhos, e impondo-lhe as mäos, perguntou-lhe se via alguma coisa.
24 E, levantando
ele os olhos, disse: Vejo os homens; pois os vejo como árvores que
andam.
25 Depois
disto, tornou a pór-lhe as mäos sobre os olhos, e fez olhar
para cima: e ele ficou restaurado, e viu cada homem claramente.
26 E mandou-o
para sua casa, dizendo: Nem entres na aldeia, nem o digas a ninguém
na aldeia.
27 E saiu
Jesus, e os seus discípulos, para as aldeias de Cesaréia
de Filipe; e no caminho perguntou aos seus discípulos, dizendo:
Quem dizem os homens que eu sou?
28 E eles
responderam: Joäo o Batista; e outros: Elias; mas outros: Um dos profetas.
29 E ele lhes
disse: Mas vós, quem dizeis que eu sou? E, respondendo Pedro, lhe
disse: Tu és o Cristo.
30 E admoestou-os,
para que a ninguém dissessem aquilo dele.
31 E começou
a ensinar-lhes que importava que o Filho do homem padecesse muito, e que
fosse rejeitado pelos anciäos e príncipes dos sacerdotes, e
pelos escribas, e que fosse morto, mas que depois de três dias ressuscitaria.
32 E dizia
abertamente estas palavras. E Pedro o tomou à parte, e começou
a repreendê-lo.
33 Mas ele,
virando-se, e olhando para os seus discípulos, repreendeu a Pedro,
dizendo: Retira-te de diante de mim, Satanás; porque näo compreendes
as coisas que säo de Deus, mas as que säo dos homens.
34 E chamando
a si a multidäo, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém
quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me.
35 Porque
qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer
que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará.
36 Pois, que
aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?
37 Ou, que
daria o homem pelo resgate da sua alma?
38 Porquanto,
qualquer que, entre esta geraçäo adúltera e pecadora,
se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do homem
se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai, com
os santos anjos.